domingo, setembro 30, 2007

A PARÁBOLA - Do Fariseu e do Publicano

(Lc 18.9-14)

I. INTRODUÇÃO
O texto em questão trata do pecado do orgulho e seus males. Jesus exemplificou a oração com três parábolas: “o amigo Importuno, o Juiz Iníquo e esta”. Veremos o contraste entre o fariseu (religião/religiosidade), porém voltou vazio do templo, porque tudo era aparência (coração cheio de autojustiça e orgulho). Mostrava-se justo, contudo seu coração não amava a Deus nem ao próximo. A autojustiça é um mal universal (Pv 20.6).
Mediante o contraste de pessoas, de orações e de respostas, Jesus traz uma mensagem atual aos nossos corações.

II. CONTRASTE DE PESSOAS
1. Os fariseus

a) Seita religiosa judaica; 2ª metade do período interbíblico; pós-cativeiro;
b) No início eram devotos e fiéis, visavam conservar a fé, a obediência a Lei, a pureza moral e espiritual; além de fortalecer a esperança no Messias;
c) Contudo tornaram-se legalistas, formalistas e hipócritas, dando mais valor à tradição do que as Escrituras.
d) Apesar de considerarem intérpretes, possuidores de todo o tesouro de conhecimento de Deus, Jesus os advertiu.
Obs.: Escala a ser evitada – muitos seguimentos começam ardentes (zelosos pela espiritualidade, santificação, evangelização), depois ficam decadentes (ofuscados pelas coisas desta vida).
2. Os Publicanos

a) Eram cobradores de impostos; odiados e tidos como traidores (funcionários de Roma);
b) Publicano (publicum) – tesouro nacional, renda pública; geralmente extorquia dinheiro; suborno (Lc 3.12,13); desonestos tanto para o povo quanto para o governo; taxas exorbitantes (Mt 7.28; Mc 7.3);
c) Classificados junto com os pecadores (Mt 9.10-13; Lc 15.1); com meretrizes (Mt 21.31); e com os gentios (Mt 18.17; 1Ts 4.5);
d) Tidos como impuros por seu contato com os gentios.
3. O Estado interior do Fariseu (v. 9)

a) Confiavam em si mesmo – em suas próprias realizações; grande erro, confiar em coisa fraca como: o eu, a riquezas (Mc 10.24), os homens (Jr 17.5), os muros (Dt 28.52), os carros e cavalos (Sl 20.7), as palavras falsas (Jr 7.8), a formosura (Ez 16.15), a armadura humana (Lc 11.22);
b) Crendo que eram justos – supostas perfeições; superiores aos demais; alimentavam uma falsa fé quanto a justiça; ir perante Deus julgando-nos merecedores;
Obs.: Razão de algumas orações não serem respondidas. O que recebemos e resultado da misericórdia e amor divino (Dt 7.6-8; Tt 3.5-7).
c) Desprezavam os outros (reputavam como nada; resto) – pensamentos de ódio contra os que necessitavam de misericórdia e de graça; aos seus olhos os outros não pareciam justos como ele; quem não agisse como ele era pecador (Is 65.5);
d) A verdadeira fé cristã é por natureza humilde, descobrimos que nada somos ante a Majestade de Deus.
Obs.: Deus não despreza ninguém (Rm 14.10); Não devemos rejeitar, discriminar, não dar importância, isto é, considerar a pessoa como nada; ter egoísmo religioso.
4. Duas Classes mais Contrárias

a) O Fariseu diante dos homens seria justificado por sua aparência de Santo, conhecimento, prática da Lei, doutrina, freqüência aos cultos, jejum e orações; considerado o modelo da mais elevada forma de expressão da piedade religiosa;
b) O Publicano diante dos homens seria reprovado por ser mal visto; considerado a mais inferior das formas de expressão da piedade religiosa; longe do arrependimento e da posse da vida eterna;
c) Deus conhece o coração contrito e sincero – viu que o publicano se aproximou dependente tão somente da Sua graça.

III. CONTRASTE DE ORAÇÕES

1. Os dois subiram ao Templo (v. 10)
a) O fariseu pela aparência parecia muito importante – vestes, linguajar, fisionomia e autoconfiança; contudo Deus pesa o espírito (Pv 16.1-2)
b) “Para orar” – ambos oraram, mas apenas um teve a oração respondida;
c) O fariseu não foi orar – ele foi informar a Deus o quanto ele era bom; exibir suas excelências morais.
d) Extraímos as seguintes lições:
- O orgulhoso não ora em espírito e em verdade (Jo 4.23,24);
- Quem despreza o próximo não tem condição de orar;
- O exemplo do publicano, “a humildade” deve se imitado (Sl 51.17);
- Devemos ir a Casa do Senhor, regularmente (Hb 10.25).
2. A oração do fariseu

a) Sua postura na oração (v. 11) – mesma posição do publicano, porém o verbo está empregado diferentemente:
- Estava em pé de modo soberbo, exibicionista e denotando superioridade;
- O publicano estava compenetrado como que examinando a si mesmo; seu coração se mostrava sensível para com Deus;
b) O conteúdo da oração do fariseu (vv. 11,12) – revela seu caráter:
- “Graças te dou” – agradece a Deus por não ser igual aos demais (atribuía a Deus sua autoconfiança e hipocrisia), significa realmente acusá-Lo;
- “Não sou como os demais homens” – mostra-se superior; uma classe elitizada;
- “Roubadores, injustos e adúlteros” – pecados ligados a bens alheios, a Deus e ao próximo, respectivamente; não tinha mancha de injustiça; prestava um relatório a Deus dos outros; Isto é Oração?
- “Nem ainda como este publicano” – atitude de desprezo ao próximo e orgulho pessoal;
- Sua oração fala o que era e o que fazia – não atinava com a necessidade de sua própria alma; praticava a lei moral e cerimonial com perfeição; nossa oração deve ser inspirada pelo Espírito Santo (Rm 8.26; Ef 6.18)
c) O jejum do fariseu (v. 12):
- Duas vezes por semana (segunda e quinta-feira) – formalidade e não por necessidade;
- Certos crentes só jejuam quanto entram em crise; a posteriori e não a priori;
- Tornaram-se extermistas e externalistas, esquecendo das questões espirituais mais profundas (justiça, misericórdia, fé);
- O jejum é bíblico, mas tem que ser espontâneo; é grande aliado a oração;
- quem não ora é vencido, derrotado, inativo, isto é, uma folha ao vento;
3. A oração do Publicano (v. 13)

a) “Estando em pé” – atitude de humildade, sem qualquer ostentação;
b) “De longe” – longe do templo (neste ficava apenas os sacerdotes); em volta do templo havia várias áreas (átrios), onde ficava o povo (grupos)
- O fariseu postou-se próximo ao templo; o publicano noutra extremidade (reconhecendo a indignidade de aproximar-se do Santo lugar);
- Atitude de Isaías (Is 6.5-7); Paulo (1Tm 1.15);
c) “Nem ainda queria levantar os olhos aos céus” – indício de vergonha (dos pecados contra Deus e sua Lei); enquanto o fariseu menosprezava o próximo, o publicano sentia-se o menor;
- devemos nos apresentar a Deus conscientes de nossa condição humana, mas amparados pelo Espírito Santo;
d) “Batia no peito” – convicto de que suas palavras não eram suficientes para expressar seu arrependimento, coração quebrantado, lamento, pesar, humildade de alma, tristeza extrema, aflição (Lc 23.48; Jr 31.19; Na 2.7).
e) Três elementos importantes na oração do publicano (v. 13):
- Invocação a Deus – o fariseu se dirigiu a Deus, no sentido capitalista (merecimento), orava consigo (v. 11), exalta os próprios méritos; Nada pediu a Deus, nada confessou e nada dependeu; o publicano contemplava a necessidade de Deus;
- Suplica a Deus – clama por misericórdia, desejo de perdão, mediante o sangue expiador aspergido sobre o propriciatório (Ex 25.21,22; Rm 3.25; Propiciar é reconciliar, pacificar, mediante oferta judicial reparadora;
- Condição de pecador – sentia-se como o maior pecador do universo.

IV. CONTRASTE DE RESPOSTA
1. Os dois desceram juntos (v. 14)
a) Agora havia uma diferença:
- um desceu justificado (publicano) e outro desceu com seus pecados (fariseu);
- Justificar é mais do que perdoar é ser declarado justo diante de Deus;
b) Mediante a fé no sacrifício de Cristo, somos justificados.
2. Como ser justificado? (Jó 9.2)
a) Na oração do publicano vemos o elemento fundamental da justificação: fé em Cristo (Fp 3.9; Rm 3.22);
b) Deus, que precisa ser desagravado, contra quem pecamos, cuja lei quebramos, por já nascermos pecadores (Rm 3.23, Is 12.2; Sl 68.20);
c) A justificação do pecador, pelo sangue expiador sobre o propiciatório – redimidos pelo sangue de Cristo (1Pe 1.18,19); sem justificação ninguém entrará no reino dos céus;
d) O pecador – isto é culpado; para ser salvo deve-se reconhecer a condição de pecador (Mt 9.13).

V. CONCLUSÃO
Aprendemos neste estudo que Deus abate o orgulhoso e exalta o humilde de espírito, tanto pessoas como nações. O segredo de ter resposta de Deus, não esta na religiosidade e autosuficiência (que leva a ruína), mais na completa noção de quem somos e de nossa dependência total para com a graça e misericórdia divina.